Com Xbox ONE, Microsoft trolla comunidade gamer
Depois de meses de especulação, de frases como “O Xbox 720 será assim”, “O Xbox 720 será assado”, a Microsoft finalmente mostrou ao mundo seu precioso novo produto, que estará a venda no fim de 2013. Pra começar, o nome do novo console é Xbox One, e não 720 como tanto se havia especulado. ONE, em extenso, claro, porque se fosse o número 1 em si, não faria sentido, para um console que chega à sua terceira versão.
Parece, entretanto, que esse “ONE” reflete os retrocessos que a Microsoft está trazendo para o dito console, e cujas notícias não têm contentado a boa parte da comunidade gamer, que esperava muito mais para este que é o último grande lançamento da recém-chegada oitava geração – outros Zeebos ou Ouyas da vida ainda podem ser lançados, é claro, mas após Wii U e PS4, o Xbox One encerra sim os lançamentos mais badalados.
Mas numa comunidade virtual onde cada vez mais se discute sobre liberdade de escolhas, códigos e afins, a Microsoft fez dois anúncios bem brochantes: PRIMEIRO, o de que jogos do Xbox 360 não rodarão no Xbox One, e SEGUNDO, que jogadores pagarão taxa por utilizarem jogos usados. Francamente, se eu fosse dono da Sega, começava a repensar uma nova volta à fabricação de consoles porque tais anúncios podem sim ser um tiro no pé da parte de jogatina da Microsoft.
É claro que nenhuma opinião é unânime, e o lucro desses superlançamentos sempre vem, proveniente daqueles gamers que cultuam a imagem do “antenado nas últimas tecnologias”, que gastam o que for pra comprar o console mais novo que houver, assim que for lançado, seja a que preço for. Mas se são capazes de gastar o que for, é porque têm muito a gastar – e, vejamos, boa parte da juventude europeia, por exemplo, não tem tido tanto a gastar assim, graças à estrondosa crise que vive o continente. E o Brasil, apesar de não estar numa crise tão ferrada, também é uma terra fértil de pessoas que procuram gastar o menos possível para comprar jogos de qualidade – nesse aspecto, vale desde uma viagem a nosso querido amigo Paraguai até aquele lance de encomendar jogos praquela tia sacoleira que vai dar aquele pulinho esperto em Nova York.
Mas o que isso tem a ver com os jogos do 360 que não rodam no One? Bem... imagine um cara que não tem Xbox nenhum, e estava esperando o novo Xbox sair pra ter o mais moderno e recente. Esse mesmo cara, também sonha em jogar um jogo do Xbox 360, que ele viu na casa de um amigo e gostou muito. Se duvidar, ele até tava pensando em pedir emprestado pra esse amigo, ao invés de comprar um jogo – o que poderia influenciá-lo a comprar uma versão mais recente do jogo, num outro momento. Mas, se ele queria um jogo do 360 e quer comprar o One, o que ele vai fazer? Não sei (RIARIARIARRRRR), isso aí é escolha do cara, mas ele pode ter outra alternativa, como por exemplo, comprar o mesmo jogo numa versão para PlayStation 3, que vai rodar num PlayStation 4.
E é aí que quero chegar: desde que a Microsoft anunciou essas “maravilhas” sobre o Xbox One, o número de comentários do tipo “é por isso que eu prefiro PlayStation” foi algo que me surpreendeu bastante. Os consumidores estão se sentindo um pouco traídos pela Microsoft, e se quiserem vender o Xbox 360 e usar o dinheiro para comprarem um One, terão de também vender os jogos – que, é claro, serão super desvalorizados. A solução para quem, por exemplo, gosta muito dos jogos do 360, será continuar com o de sétima geração, comprar um One, e ficar com os dois. Mas será que, dadas tais condições, é mesmo atrativo ter um Xbox One? Dizem que jogos do Xbox e do Xbox 360 poderão ser relançados apenas na versão para download - isso quer dizer "comprar de novo"?
A verdade é que tais decisões da Microsoft apenas estão tirando o consumidor da loja e o levando para o camelô ou para o técnico hacker. É claro que já tem gente querendo fuçar o Xbox One na intenção de crackeá-lo, dando um jeito do console rodar Xbox 360, não precisar pagar taxa para jogo usado (francamente, essa taxa parece coisa dos anos 1970!) e coisas afins. Ora, se nessa geração já teve gente que colocou emulador em PS3 e Xbox 360 para que estes rodassem jogos do Wii, porque não conseguiriam – sacrificando algumas noites de sono – ir mais longe?
Microsoft tem experiência com essas patacoadas...
Não é a primeira vez que a tchurma do Bill Gates faz algo do tipo – e da primeira, não se deram muito bem não. Quando a Microsoft lançou o sistema operacional Windows Vista, lá pelas idas de 2007, trouxe consigo os “novos formatos” de documentos. Um documento de Word, que até então tinha extensão “.doc”, agora tinha extenção “.docx”. Ou seja, você fazia um arquivo no Word 2007, mas se fosse abrir na casa de um amigo que tinha Word 2003, ele simplesmente não abria. Não que o Word 2007 não salvasse em “.doc”, o fato é que era necessário selecionar uma opção diferente, enquanto que, nas versões anteriores, o salvamento simples já dava a extensão “.doc” ao documento.
A impressão que dava era a de que, com isso, a Microsoft obrigasse todo mundo a ter o Windows Vista e seu pacote. Mas a tal estratégia foi um tiro no pé, pois nunca se discutiu tanto sobre software livre quanto depois disso. Eu, particularmente, ouvi falar de Libre Office e Open Office – programas semelhantes ao office da Microsoft, só que gratuitos – nessa época. Não apenas isto, mas o Windows Vista foi uma das versões menos quistas, e muito gente preferia continuar usando o Windows XP, mesmo tendo dinheiro para adquirir o Vista.
Se vai acontecer algo semelhante agora com o Xbox One, ainda é cedo para saber. É fato notório que as pessoas não gostam muito de seguir regras, principalmente se forem regras de diversão – quanto mais regras, menos diversão. Não é a toa que as pessoas dizem que compram console “bloqueado” na loja, ou dizem “o Xbox que comprei no camelô já veio desbloqueado”. Talvez faltasse à Microsoft analisar o que a palavra “bloqueio” gera no inconsciente das pessoas, e analisar se é isso mesmo que ela quer agregar às suas franquias. Já me imagino ouvindo pessoas por aí falando que fulano “desbloqueia” o Xbox One por cinquentão, e que depois do “desbloqueio” dá pra rodar tudo nele, até cartucho do Nintendão 64 (tá, tá, exagerei). Essa geração promete!
William é publicitário, roteirista, ator em formação e Sonicmaníaco. Curte jogos de plataforma, mas não dispensa um GTA ou Mario Kart.
Com Xbox ONE, Microsoft trolla comunidade gamer
Reviewed by Enki Jr.
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23.5.13
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