[TopoDestaque][txmag]

Games, futuro e guerra dos consoles: vamos falar sobre modelos de negócios?

Discute-se, já faz algum tempo, se os consoles irão sumir diante do crescimento dos jogos no computador, e da ascensão do mercado de games nos celulares, tablets e smarTVs, ou se irão resistir e continuar presentes e com relevância no mercado de jogos digitais.

Dentre os defensores da ideia de que os consoles não irão sucumbir, é muito comum o uso de dois argumentos em especial: o primeiro, é o fato de haver uma preferência pessoal do gamer. Há pessoas que, mesmo tendo assimilado bem a ideia de jogar usando o computador, sempre preferirão jogar num console se tiverem essa opção.

Já o segundo, é o fato de que o console é um dispositivo que tem o jogo como utilidade principal — ou única, especialmente entre os mais antigos. Seu game não dividirá espaço com os trabalhos da faculdade, projetos do AutoCad, planilhas do Excel, fotos e vídeos ou qualquer outra coisa, tampouco sua execução será interrompida causa de uma ligação — embora o XBox One traga a possibilidade de usar Skype que, francamente, não é o atrativo principal do console, mas já é outra história.

O famoso corredor da E3 de 2015: dois rivais e, talvez, nenhum vencedor.
O que muita gente ignora, porém, é outro fator muito importante: o dos modelos de negócio. Ainda será atrativo a uma produtora focar sua produção de jogos nos consoles, diante de tantas outras boas opções?

Fabricantes de consoles estão entre as empresas que mais têm trabalho no pós-venda. Quando, por exemplo, um fabricante de ventilador vende seu produto, ele raramente precisará ficar acompanhando o quão útil é a mercadoria para seus usuários.

um fabricante de consoles precisa garantir aos compradores que haverá uma variedade de jogos grande o suficiente para a aquisição valer a pena, ao mesmo tempo em que precisa garantir aos produtores de jogos que haverá compradores o suficiente para valer a pena produzir jogos para aquele console.

O desequilíbrio dessa equação é um dos grandes causadores de problemas na trajetória do Wii U e um dos fatores de fracasso do Sega Saturn. Essa equação precisa funcionar dentro do espaço de tempo de uma geração, o que costuma equivaler a uns sete anos, e isto nem sempre acontece.

As lojas de aplicativo para dispositivos móveis e a ascensão de plataformas como Steam, Origin e Nuuvem, caminham para tornar a mídia física obsoleta, enquanto que componentes colecionáveis como os Amiibos, Skylanders ou os Telepods, que usam a tecnologia NFC, colaboram para que alguma coisa física seja comercializada.

Miniaturas com tecnologia NFC: fontes de renda diante da obsolescência da mídia física.

Afinal de contas, a não ser que você seja designer ou algo do tipo, você não verá utilidade alguma nos blu-rays ainda comercializados atualmente a não ser o armazenamento dos jogos. E tal armazenamento, é bom relembrar, tem se tornado obsoleto graças à popularização da banda larga e dos dispositivos com grande capacidade de armazenamento. 

Resulta que é esperado que nenhum dos três grandes consoles previstos para a próxima geração — inicialmente esperada para 2019, mas possivelmente antecipada para 2017 — venha com entrada para qualquer mídia física. Ou seja, os famosos cartuchos, aposentados a partir da década de 1990, em breve poderão ganhar a companhia dos discos ópticos, levando todo um setor do comércio a ser obrigado a se reinventar. 

Mas, se por um lado, a obsolescência da mídia física diminui os custos de produção de um jogo, consequentemente, também o torna mais autônomo. Além disso, as engines estão caminhando para, cada vez mais, facilitar a criação única de jogos, ou seja, possibilitar aos produtores que coloquem seus títulos em várias plataformas diferentes, gastando pouco ou nenhum tempo com a adaptação de versões.

Ainda assim, se por um lado a Sony, a Nintendo e a Microsoft podem pensar em plataformas puramente virtuais no futuro — tornando-se concorrentes diretas de Steam, Origin e afins —, por outro, também os jogos que rodam em Android têm ganhado seus próprios consoles, como o M.O.J.O ou o Zrro, além da própria Valve ter lançado a Steam Machine que é um híbrido de console e computador. 

Steam Machine: você pode usá-lo para acessar a Steam, mas não é obrigado a ter um.

Mas há algo que diferencia a Steam Machine e os consoles baseados em Android dos consoles mais tradicionais, que é a completa independência do jogo em relação ao console. O sucesso ou fracasso da Steam Machine não fazem diferença na decisão do produtor dos jogos, já que o foco principal é a plataforma, esteja ela rodando num computador, console, smarTV, óculos VR, holograma ou o que quer que seja. 

Zrro: console baseado em Android com controle touchscreen, já falado nessa postagem.

A própria fonte de receita dos jogos já não segue uma fórmula única e previsível. Uma produtora, com o mesmo produto, pode atingir margens de lucro diferentes com cada jogador ou, até mesmo, não conquistar receita alguma com o jogador em si, mas com a publicidade veiculada — e esse artigo no site Produção de Jogos é bem interessante para entender melhor tudo isso.

Mas, resumidamente, é cada vez mais difícil imaginar que os consoles continuem existindo como existem atualmente. Ou desaparecerão, ou serão muito, muito diferentes do que nos acostumamos a vê-los. Também é possível que haja uma disseminação de consoles híbridos, numa quantidade de modelos bem maior que a que conhecemos hoje, embora com muito menor abrangência.

As produtoras de jogos é que, provavelmente, não ligarão mais para isso. Negociações para títulos exclusivos envolverão muitos novos fatores, e os donos das plataformas e/ou consoles terão muito mais trabalho para convencer uma produtora de fazer um acordo do gênero — se é que farão.

Em outras palavras, podemos estar diante de um horizonte mais favorável às produtoras do que às plataformas e consoles, e é possível que vejamos um fim da guerra de consoles e o início de uma guerra de plataformas.
Games, futuro e guerra dos consoles: vamos falar sobre modelos de negócios? Games, futuro e guerra dos consoles: vamos falar sobre modelos de negócios? Reviewed by Enki Jr. on 15.2.16 Rating: 5

5 comentários

  1. Enki, sou consolista. Então, não venha me alarmar.

    Agora, acho que a vida útil dos consoles um tanto maior e considero a experiência muito mais agradável. Outro dia, ao escrever sobre flash games, vi que alguns desses joguinhos também estão sendo disponibilizados em Xbox. Sei que percebi um pouco tarde, mas isso não é uma tendência também?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A vida útil dos consoles pode ser maior se você considerar a durabilidade do objeto nas mãos de um usuário. Agora, se for considerar a evolução de hardwares, softwares, jogabilidade e o escambau, a vida útil está diminuindo. Está difícil seduzir produtoras poderosas a fazerem jogos dentro de uma estrutura de 3 ou 5 anos atrás, enquanto as plataformas digitais oferecem estrutura atualizada com mais frequência. Tanto é que TODAS as produtoras de grandes consoles já trabalham com a hipótese de que a atual geração não vai aguentar 7 anos. ¯\_(ツ)_/¯

      Excluir
  2. Interessante, Enki. Você fala de atualização, óbvio que uma plataforma a atualização é mais rápida e ágil, mas se essas plataformas exigirem hardwares melhores o jogador não terá sempre que atualizar seu computador, tablet ou celular?
    Falando de Playstation, pois possuo dois e posso falar com clareza, o PS3 teve três modelos desde o seu lançamento até o lançamento do PS4, e foi ficando cada vez menor, o mesmo aconteceu com o PS1 e PS2, isso não seria uma forma de atualização de hardware? Sou extremamente curioso, quando tenho a oportunidade desmonto algum console e recentemente descobri diferenças internas em dois modelos Slim do PS2, o que prova que os consoles estão em contante adaptações.
    A mídia física pode estar com os dias contados, quando esse dia chegar, infelizmente perderá a graça ser colecionador do jogo e como se coleciona algo que se apenas em dispositivos? Meu prazer é receber os amigos em casa e apresentar minha coleção, disco a disco, já ando frustrado, pois os recentes jogos que adquiri não veem com encarte ou manual impresso.
    Caso os consoles venham a desaparecer, ou mesmo as mídias digitais então terei de parar e curtir o bom da vida de um gamer e, se for o caso, voltar a frequentar algum fliperama da vida, se é que existam, então terei de montar um.
    De qualquer modo, acho pouco provável a extinção dos consoles bem como os jogos em disco, mesmo que os jogos disponibilizados em bluray chegue ao fim outro meio assumira esse papel, pode ser até mesmo em cartões de memória flash por exemplo, desde que tenha uma capinha e um encarte supimpa estará ótimo.
    Espero eu, o que acha? Sonhador de mais?
    Um grande abraço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cara, a resposta ficou grande e terei de dividir em duas partes para o servidor aceitar... hahaha! Boa sorte.



      "se essas plataformas exigirem hardwares melhores o jogador não terá sempre que atualizar seu computador, tablet ou celular?"

      Com certeza, Roger. Mas aí entra a questão de liberdade de compra. Se o seu notebook Vaio não rodar mais os jogos mais monstro do Steam, você poderá comprar um Toshiba, Apple, Samsung, enfim, o fabricante que quiser e cujas configurações lhe pareçam mais apropriadas. No mercado de consoles, isso não é possível. A não ser com o uso de emuladores, que são sempre extraoficiais.

      "o PS3 teve três modelos desde o seu lançamento até o lançamento do PS4, e foi ficando cada vez menor, o mesmo aconteceu com o PS1 e PS2, isso não seria uma forma de atualização de hardware?"

      Certamente sim. E as outras gigantes também fazem isso. A Nintendo, por exemplo, faz bastante, e teve dono de Nintendo 3DS que ficou tiririca da vida quando ela lançou o New 3DS. As pessoas ficam assim porque sabem que já ficarão meio na mão antes do fim daquela mesma geração. Entretanto, é sempre esperado que o aumento da capacidade potencial de uma geração para outra seja muito maior que nos upgrades dentro da mesma geração. Lá vou eu citar Nintendo de novo (hahahaha), mas estima-se que a capacidade do Wii U seja 20x maior que a de um Wii.

      O grande desafio, nesse caso, é fazer o usuário se sentir satisfeito em permanecer na minha linhagem de consoles. Sem essa de "não tem Coca-Cola, vai Pepsi mesmo". Melhorar um software dentro de um hardware que já tem muita capacidade (a exemplo dos computadores) é diferente de precisar melhorar o hardware primeiro antes de melhorar o software e ainda trabalhando na corda bamba de uma "exclusividade" que pode trazer vantagens e prejuízos (como geralmente ocorre nos consoles tradicionais).

      Excluir

    2. "A mídia física pode estar com os dias contados, quando esse dia chegar, infelizmente perderá a graça ser colecionador do jogo e como se coleciona algo que se apenas em dispositivos? Meu prazer é receber os amigos em casa e apresentar minha coleção, disco a disco, já ando frustrado, pois os recentes jogos que adquiri não veem com encarte ou manual impresso."

      Então, Roger. Para produzir uma mídia física, precisa-se estipular uma tiragem mínima ou estimada. Suponhamos que você estime que vá vender 100 mil cópias e venda todas em duas semanas. Nesse caso, parabéns, inicie uma nova tiragem. Por outro lado, imagine que você sabe que seu jogo não vai vender tanto assim, e por isso você faz uma tiragem de 5 mil cópias. 3 mil são vendidas e 2 mil ficam encalhadas. E agora? Teve gente que faliu nessa brincadeira.

      O fortalecimento do download vai tornar a mídia física inviável, pelo menos quando falamos em discos. Cartões de memória flash? É, talvez caminhe para isto, e não seria nada mal. Mas talvez mude-se o foco do que tornar colecionável. No texto eu cito as miniaturas com tecnologia NFC, ou seja, que servem tanto de enfeite como para serem escaneadas para abrir alguma vantagem no jogo. Isso já está a venda e é um sucesso, especialmente em países menos ferrados que o Brasil. Amiibos, Telepods, Skylanders etc. são colecionáveis e dão vantagens dentro dos jogos. Novos produtos com a tecnologia NFC podem ser criados, além de todo tipo de buginganguinha 'analógica' colecionável.

      "De qualquer modo, acho pouco provável a extinção dos consoles bem como os jogos em
      disco"

      Então. Acredito que a existência de algo como a Steam Machine é meio que uma prova de que os consoles continuarão existindo. A questão que eu levanto é que passarão a existir de outra forma. Se eu lançar um jogo para Google Play hoje, ele pode ser executado em vários consoles como M.O.J.O ou GameStick, mas se os dois são concorrentes entre si, eu não tenho nada a ver com isso, pois publiquei numa PLATAFORMA, e não num CONSOLE. Sacou? É mais vantajoso para o produtor, mas é mais desafiador para quem quiser fabricar consoles. Já a extinção ou não de jogos em disco se dará por razões puramente financeiras, e nenhuma ligação afetiva será argumento suficiente para convencer um produtor a arriscar margens de prejuízo... hahaha!

      Se você quiser fazer mais alguma observação, tamos aê ;-)

      Excluir